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CRÍTICA DE MISSÃO: IMPOSSÍVEL – EFEITO FALLOUT

Atormentado após os eventos da captura do terrível Solomon Lane em “Missão: Impossível – Nação Secreta”, Ethan Hunt se encontra em um esconderijo na Irlanda do Norte tendo visões assustadoras sobre a possibilidade de o terrorista escapar e conseguir concluir seus planos. Os pesadelos que o perturbam mesmo nos breves cochilos são constantes e a questão é clara: quais as consequências de um novo encontro entre Lane e Hunt? É claro que a nova colisão é iminente, ainda mais após o recebimento de sua nova missão: interceptar a venda de três núcleos de plutônio para membros de um grupo conhecido como Os Apóstolos, restos mortais do antigo Sindicato, com o qual Lane está intimamente relacionado.
Tudo parece muito simples à primeira vista, mas como precisa-se de uma história para contar e Hunt não é o maior especialista em negociações, o espião escolhe salvar a sua equipe no lugar de obter o plutônio, que acaba nas mãos dos Apóstolos. A fria diretora da CIA, Erica Sloane, naturalmente não está contente com a ação solidária, mas insegura, de Hunt e estabelece que seu braço direito, o agente de Atividades Especiais August Walker, o acompanhe muito de perto enquanto tenta recuperar o plutônio. A nova informação é que os núcleos serão negociados em uma festa de arrecadação de fundos em Paris, mas obtê-los não será mais simples desta vez, principalmente porque Hunt e Walker estão muito longe de serem parceiros harmônicos.
Não há como não começar a tecer comentários opinativos sobre “Missão: Impossível – Efeito Fallout” sem abordar as novas loucuras de Tom Cruise e, acredite, há muitas delas. Com seus 56 anos, Cruise transformou a franquia no palco ideal para evidenciar sua inesperada jovialidade e desprezo por perigos – e o faz com graça. Há cenas com perseguições eletrizantes, intensas lutas e loucas correrias por todos os cantos do longa-metragem e em todas elas, embora é claro que esteja munido de equipamento de segurança (que, porém, não foi capaz de impedir que seu tornozelo fosse quebrado), Cruise dispensa o uso de dublês e em muitos momentos me encontrei pensando em como diabos ele conseguia fazer tudo aquilo.
Além das reações perplexas, a satisfação que esta prática traz é a sensação de vulnerabilidade e, ao mesmo tempo, de veracidade, elementos mais do que importantes em uma obra com tantos eventos no mínimo absurdos. Suspeito que o roteiro, inexistente antes que as gravações fossem iniciadas, fundou suas cenas de ação como base para, depois, articular a trama em torno delas. Escrito pelo próprio Christopher McQuarrie, o texto acaba sendo muito expositivo em alguns momentos, especialmente no primeiro ato, em que a missão e seus desenrolares precisam ser mais esclarecidos, mas há de se admitir que pequenas exposições aqui e ali tornam-se necessárias em um longa como “Missão: Impossível – Efeito Fallout”, em que muitas coisas acontecem ao mesmo tempo.
Afinal, há muitos episódios particularmente confusos ao longo da trama e não se sinta culpado caso se encontre refletindo sobre coisas que literalmente acabaram de acontecer em sua poltrona, mas é aí que o roteiro de McQuarrie demonstra solidez: embora nem todos os seus detalhes sejam muito claros, as cenas sempre terminam de maneira compreensiva e você entende o ponto em que o roteirista queria chegar com todas as suas idas e vindas. Também há conteúdo bem dosado de modo que a história não pareça uma grande sequência de ação de mais de duas horas duração – como acontece em “Transformers”. Este dinamismo é outro dos méritos de McQuarrie, que também assina a direção.
Consciente de como construir a geografia de uma cena de ação, o cineasta aposta em sequências muito bem planejadas e coreografadas e as acompanha com uma precisão surpreendente que não se assistia desde quando George Miller comandou o excelente “Mad Max: Estrada da Fúria” – se o roteiro pode ser ocasionalmente confuso, o mesmo não pode ser dito sobre a direção. Aliás, outra surpresa de “Missão: Impossível – Efeito Fallout”, desta vez entre o seu elenco, é a atuação de Henry Cavill como Walker: longe da pressão de corresponder às expectativas de todos como o Superman, Cavill está muito à vontade no papel e é simplesmente agradável assistir à sua imponência britânica, ainda que sobrem motivos para ter rancor pelo personagem.
Apesar de sua reviravolta ser previsível a quilômetros de distância, o arco de Walker não se relaciona com a antiga ideia do “parceiro com o qual se aprende a lidar”, já explorada em “Missão: Impossível – Protocolo Fantasma”, e sua dinâmica com o Lane do ótimo Sean Harris soa muito natural. Por outro lado, infelizmente para aqueles com quem contracena e felizmente para quem curte uma performance intensa que não se limita à zona de conforto, ninguém é capaz de ofuscar o esforço de Cruise no papel de Hunt. Bem como seu personagem, Cruise é charmoso, frenético e imparável e, assim como a franquia que lidera, está melhor do que nunca.

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